O que é uma Igreja baseada em princípios?

  ‘As igrejas são organizações cuja missão é estabelecer e estender o reino. Elas fazem isso: 1) testemunhando das verdades históricas do novo testamento; 2) proclamando o evangelho a todas as nações; 3) pela exibição e divulgação dos princípios do cristianismo’ (Geo. W. MacDaniel - As igrejas do novo testamento, p. 18) 

“...queremos apresentar as características de uma igreja que tem os princípios bíblicos como prioridade. Essa igreja é uma comunidade local onde todos os membros, vivenciando os princípios apresentados na Palavra de Deus, tem por objetivo glorificar a Deus e cumprir a Grande Comissão presente em Mateus 28.18-20. Vejamos algumas características de uma igreja assim. 

Em primeiro lugar, o líder é um homem de oração, servo e treinador. Pensar em um papel pastoral com essas marcas é um grande desafio. Uma vida de intimidade com Deus é a principal característica de um líder que está à frente do seu povo. Ele se encontra com o Senhor logo ao amanhecer, pois compreende que antes de qualquer coisa o mais importante é estar na presença do Pai e andando ao seu lado. 

Horatius Bonar, falando sobre a necessidade de um ministro ter um encontro diário com seu Senhor, diz: "Buscamos o Senhor logo cedo. Se o meu coração for temperado com sua presença logo cedo, ele terá aroma de Deus durante o dia todo. Encontremos com Deus antes que nos encontremos com qualquer outra pessoa" (Um recado para ganhadores de almas, p. 15).

 Líderes de uma igreja que vivencia os princípios bíblicos, antes de motivarem os que estão ao seu redor a terem uma vida de oração, são os maiores exemplos. Afinal, eles já compreenderam que de nada adianta a erudição, a eloquência ou o poder de argumentação. É uma vida de intimidade com Deus que dá poder as nossas palavras e argumentações. "Aquilo que o pastor é de joelhos, em secreto diante do Deus Todo-poderoso, é o que ele é, e nada mais. A piedade é consequência de uma vida devocional" (Revitalizando a igreja, p. 41). Um homem de Deus diariamente se derrama aos pés do Salvador. Quando alguém pode ver em seu pastor um exemplo vivo a ser seguido de quem anda com Deus, isso o impactará muito mais a ser como ele do que somente estudar os seus sermões. 

Outro ponto importante na vida deste líder é o ser servo, ao contrário de ser alguém que quer ser servido por outros. Richard Foster diz que "a verdadeira liderança consiste em tornar-se servo de todos. O poder revela-se na submissão. O símbolo mais notável dessa servidão radical é a cruz. ‘Jesus humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, morte de Cruz’ (Filipenses 2.8). A vida de cruz é a vida de quem livremente aceitou ser servo".( Celebração da disciplina, p. 167).

O líder que é um verdadeiro discípulo tem a clara compreensão de que o respeito e a confiança virão por meio do serviço. Seguir o exemplo de Cristo é o caminho bíblico da conquista da autoridade e do respeito diante do rebanho que o Senhor colocou em nossas mãos. Precisamos nos tornar servos de todos e, por meio do exemplo, ajudá-los a ir além na prática da vida cristã. Não podemos liderar pelo autoritarismo nem por busca de poder pessoal. Devemos seguir o maior líder que já existiu: o próprio Jesus. 

Olhar para Cristo, lavando os pés dos seus discípulos é poder ver nele este grande exemplo de humildade. Ele não nos ensinou algo teórico. Ele foi o próprio exemplo do que devemos ser como líderes do seu povo ao lavar os pés dos seus discípulos (Jo 13.1-17). Fico a pensar como não foi essa cena. 

Nos dias de Jesus todos caminhavam em estradas de terra e usando sandálias. Para lavar os pés sujos de seus discípulos, Jesus teve que sair de uma posição de conforto junto à mesa para baixar-se e ajoelhar se perante cada um deles. Que exemplo de humildade e serviço! 

Não temos dúvidas de que a função pastoral também compreende proteger, alimentar e edificar. O que nem sempre percebemos é que dentro do edificar estão subentendidos o aperfeiçoar, o equipar e o capacitar. O papel pastoral vai além da defesa e do cuidado do rebanho. Fomos comissionados a trabalhar no aperfeiçoamento dos santos, como lemos em Efésios 4.11 e 12. Esse é um importante aspecto do ministério pastoral: a capacitação do povo de Deus para o serviço que glorifique a Ele. Essa capacitação necessita ser contínua e com ações intencionais. 

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Outra característica forte de uma igreja movida por princípios é a prática do sacerdócio universal do crente. Dizer que um Batista é um sacerdote soa muito estranho para algumas pessoas. Mas esse é um princípio bíblico muito importante em nossa história. Ele foi uma das bandeiras erguidas pelos reformadores, principalmente por Martinho Lutero. Ele denunciou a ênfase católica na mediação dos padres na confissão e no perdão dos pecados, insistindo que todos os cristãos têm acesso a Deus por intermédio de Jesus Cristo. John Scott Horrel retrata bem esse cenário. 

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Nós, batistas, cremos que todas as pessoas salvas por Jesus se tornam sacerdotes. A nossa Declaração Doutrinária afirma: "Todos os crentes foram chamados por Deus para a salvação, para o serviço cristão, para testemunhar de Jesus Cristo e promover o seu reino, na medida dos talentos e dos dons concedidos pelo Espírito Santo". Agora, precisamos trabalhar arduamente para que essa crença se torne uma realidade na prática em nossas igrejas. 

O ofício sacerdotal no Antigo Testamento era desempenhado por homens da tribo de Levi, responsáveis por determinados aspectos do culto, tais como: o sacrifício dos animais. Eles eram os mediadores entre Deus e o povo. Mesmo na antiga aliança, podemos enxergar alguns textos que nos dão lampejos de um sacerdócio para as nações. Por exemplo, Êxodo 19.5 e 6: "Agora, portanto, se ouvirdes atentamente a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis minha propriedade exclusiva dentro de todos os povos, porque toda a terra é minha; mas vós sereis para mim reino de sacerdotes e nação santa." Ainda, Isaías 61.6: "Mas vós seres chamados sacerdotes do SENHOR, e vos chamarão ministros do nosso Deus."    

No Novo Testamento este conceito foi aperfeiçoado radicalmente com a vida, morte e ressurreição de Jesus. Ele é o sumo sacerdote, que veio até nós e se tornou o único representante diante de Deus. Ele é ao mesmo tempo o sacerdote e o sacrifício. Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.36). Na crucificação, o véu do templo se rasgou, de alto a baixo (Mt. 27.51), nos mostrando que Jesus é o único mediador entre Deus e os homens (1 Tm. 2.5). Foi um ato de uma vez por todas. Em Cristo todos nós podemos ir diretamente a Deus em oração, confissão, gratidão e adoração.  

1ª Pedro 2.9 nos traz esta preciosa declaração: "Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz". Segundo este texto, como sacerdote temos a tarefa de anunciar as grandezas de Deus em toda a terra, compartilhar com todas as pessoas o plano maravilhoso de redenção. Toda igreja deve se envolver nesta obra.” 


Trecho extraído do livro “De volta aos princípios: vivendo o jeito bíblico de ser igreja” (pp. 50-53) 

FREITAS, Fabrício. De volta aos princípios: vivendo o jeito bíblico de ser igreja. 2. ed. Rio de Janeiro: Convicção, 2016.