Saul está entre as personagens que tiveram os fins mais trágicos da Bíblia. O primeiro rei do povo de Israel morreu ao se se lançar sobre a própria espada enquanto perdia a batalha contra seus inimigos, o povo filisteu. É importante dizer que uma tragedia, no sentido original do termo, refere-se a um fim terrível sofrido por alguém em consequência de suas escolhas equivocadas. Logo, para chegar ao final de sua vida, o rei Saul trilhou caminhos marcados por suas falhas de caráter, despreocupação com a autoconhecimento e afastamento de sua relação com Deus. Esta história infeliz nos ensina algo: quando é hora de reconhecermos que estamos sendo derrotados.
Saul foi um jovem promissor. Reunia características intelectuais físicas para ser um grande governante (I Samuel 9 e 10). Em seu reinado, lutou contra o povo do mar, os filisteus, que queriam a posse das antigas terras de Canaã (atual Palestina). Aparentemente mais fraco e com armas mas frágeis que as de seus inimigos, Israel, sob a liderança de Saul obteve vitórias sobre seus inimigos. No entanto, a trajetória deste homem teve uma grande virada. Precisamos estar atentos aos tipos de viradas pelas quais uma pessoa pode passar. Há aquelas que são positivas, quando de uma situação ruim passamos para uma melhor. Mas, existem aquelas que são o oposto, ou seja, quando nos desviamos em direção à ruina. Este segundo tipo de virada é o que teve inicia na vida de Saul, ainda quando ele deixou de ouvir os conselhos do profeta Samuel, homem experiente e temente a Deus. Pouco depois, ao invés de ser grato a Davi, que seria seu sucessor, por ter matado o maior guerreiro filisteu, Golias, passou a prossegui-lo, tomado por um ciúme doentio (I Samuel 18.8). Desse instante em diante, começou a cair em abismos cada vez mais profundos. Ora, quais lições podemos tirar da queda gradual de Saul?
1ª) Preocupação extremada com a própria imagem: Saul vinha passando por vários conflitos psicológicos, entretanto, provavelmente, não investiu tempo para resolvê-los. Antes preocupou-se em manter sua posição, perseguindo objetivos equivocados. Davi não era seu inimigo e sim um súdito fiel, disposto a lutar por sua nação (I Samuel 24 e 26). Começamos nossa caminhada em direção à derrota quando nos concentramos apenas no que é exterior e nos esquecemos de nossas fraquezas morais e espirituais. Em alguns casos, disfarçamos nossa ruina através de nosso consumismo e ativismo, dando a impressão de que está tudo bem, que continuamos a ter as mesmas capacidades de aquisição ação. Porém, isto só acelera a queda em direção ao fundo do abismo.
2ª) Negação: Saul demorou a reconhecer que as coisas estavam saindo de controle. Grande parte das derrotas ocorre de forma lenta sofrível. No percurso, a negação de que algo não está bem só contribui para tornar inevitável a tragédia. Não são poucas as pessoas que evitam aceitar que estão sendo subjugadas por um vício, descontroladas em suas finanças, com sua família destroçada, distanciando-se do centro da vontade de Deus. Quanto mais cedo reconhecermos que não está tudo certo e retrocedermos, mais distante estaremos da perdição completa.
3ª) Buscar orientação em lugares inconvenientes: Para piorar seu estado, Saul foi consultar pessoas erradas, que agiam fora dos princípios do Deus de Israel (I Samuel 28). Assim, obstinado, sem controle e sob conselhos erróneos, a derrota já estava anunciada, só faltava a ocasião. Somos bombardeados o tempo todo por mensagens que nos apresentam a ideologia do otimismo, isto é, não importa o quanto a situação é ruim, tudo vai se resolver no final. As atitudes de um cristão não devem se basear nestas premissas vazias e sim na fé. A palavra de Deus deve ser nossa primeira orientação diante das dificuldades. No Salmo 119, versículo 105, o salmista Davi diz: "Lâmpada para os meus pés é a Tua Palavra e luz para o meu caminho". Os melhores conselhos estão com aqueles que amam e obedecem ao Senhor.
Ainda há muitas derrotas que podem ser evitadas em sua vida. Quais delas parecem mais próximas? Talvez esteja na hora de repensar e decidir-se por um recomeço. Ter consciência de sua dependência do Senhor Jesus é o primeiro passo para transformar sua destruição em vitória. Busque a Ele enquanto se pode achar, invoque o enquanto está perto (Isaias 55.6), espere com paciência no Senhor (Salmo 40.1), contudo, aja, porque a fé deve ser acompanhada de ações (Tiago 2.26).